Opinião
A padaria artesanal segundo Richard Bakery
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O pão brilha para mim e é mágico
A história do pão é a história da reunião de pessoas ao redor de uma mesa ou do que venha a representar uma mesa, com pessoas felizes que conversam e se comunicam.
Expressões verbais e não-verbais, discussão sobre assuntos, lembranças do que foi e já não é mais se fazem presentes.
Quando olho para minhas mãos vejo o quanto já alimentei pessoas e o quanto fiz parte dessas famílias, mesmo sem conhecer todos os integrantes delas ou mesmo a maioria. O pão é um alimento milenar e vem alimentando as pessoas por muitos anos.
Quando um cliente me fala que atravessou a cidade para vir até a Richard Bakery, isso é um presente para mim. Sempre falo que não tenho clientes, tenho amigos, que esses quatro anos da padaria me deram. Eu converso com essas pessoas, eu participo de suas vidas e muitas delas também entraram na minha vida. Com elas fiz amizades e também tive oportunidades. Uma delas de viajar para a Itália e conhecer um pouco mais do processo de fermentação natural. Um processo que sempre quis me dedicar: a fermentação natural.
A gente respeita tanto esse processo que a Richard Bakery abre somente dois dias na semana, às quartas e sextas-feiras. Isso porque é preciso respeitar o processo da massa. A massa da minha padaria tem dia certo para ser feita, para descansar e, mesmo que eu viaje, esse processo continua sendo respeitado, pois deixo meu pai, um descendente de italiano que também fazia pão caseiro, de olho nela.
Ser padeiro não é fácil. É preciso dedicação, determinação. É preciso querer estar disposto para o trabalho, um trabalho pesado. Mas é também ver o encanto na fala e nos gestos dos nossos consumidores.
Sempre temos novidades na padaria, que até hoje permanece como em sua origem: um local para retirada de pão no balcão. Não temos mesas, ar condicionado e não temos delivery. Além de mim, hoje temos apenas uma funcionária, que divide o trabalho comigo. Algo que hesitei bastante, pois configura passar receitas, ensinar o processo. Mas um dia pensei que não poderia guardar tudo comigo, que eu precisaria passar o conhecimento adiante.
E assim está sendo feito, inclusive por meio de cursos que passei a ministrar anualmente.
Por ano, somos procurados por padeiros até do exterior para conhecer o nosso processo de produção. Por ano, já formamos quatro pessoas. É um número pequeno, mas não pretendemos trabalhar em série neste projeto. Queremos que ele seja singular e único.
Por isso mesmo nunca fiz questão de me inscrever em concursos e, consequentemente, nunca ganhei prêmios. Meu maior prêmio é a relação que desenvolvi com as pessoas que frequentam minha padaria. Por dia são oito e até 12 fornadas, que acabam, grande parte, ainda no período matutino, pois nosso público é essencialmente matinal e adquire nossos pães para café da manhã.
A Richard Bakery, cujo segundo nome significa padaria em inglês, surgiu de um sonho. Eu era gerente industrial em uma empresa de tecidos e não-tecidos, mas não estava feliz com meu trabalho. Juntei então o dinheiro que eu tinha — eu também tinha feito curso de Administração, MBA —, e fui pensar em casa, o que eu poderia fazer, um negócio meu. Pedi dispensa voluntária. E fiquei em casa por um ano e meio. Talvez, por já ter a experiência de fazer pães caseiros, para consumo próprio, da família e de amigos, tenha despertado a ideia deste projeto.
Pensei no ponto comercial, que até hoje é o mesmo, em Americana, São Paulo; fui ver o aluguel, os custos e vi que poderia dar conta.
Tive e tenho muito apoio de minha esposa, que é dentista e que me apoia moralmente em meu trabalho. Tenho três filhos, tendo a mais nova três anos, e o prazer de dizer que o primeiro alimento sólido que minha filha comeu foi um pão produzido por mim. Até hoje sempre separo um pequeno pedaço de massa para fazer o pão dela.
Essa é a marca que eu quero para o meu empreendimento, o da confiança, pois jamais daria à minha filha algo que não confiasse ou que não fosse saudável. É essa a mensagem que quero deixar a todos que frequentam a padaria, àqueles que cruzam a cidade para pegar um pão feito com qualidade, que em certos dias da semana inclui acordar às três da manhã e me deslocar para padaria, para cuidar do processo da massa.
Lá no início, fiz muitos testes, distribuí pães gratuitamente. As pessoas passavam pela padaria, viam uma portinha diferente e isso despertava a curiosidade delas. E até hoje, quando uma fornada não sai como eu esperava, eu não vendo. Eu dou os pães para as pessoas.
Foi distribuindo fornadas e com o consequente boca a boca desta ação, que minha clientela se fez. No próximo dia 12 de setembro farei quatro anos da primeira fornada da primeira padaria de pão artesanal que abriu em Americana, São Paulo. E assim continuamos, da mesma forma, com ingredientes de qualidade e com o processo artesanal.
Meu foco é fazer um produto diferente, para que as pessoas possam pegar seus carros, cruzarem a cidade e irem até o balcão da padaria.
O pão é ancestral, o pão alimentou a humanidade durante vários anos na história, sem agentes químicos, sem corantes. E eu ajudo a manter a história do pão. Tenho a clara consciência de que faço parte da família que adquire o pão feito por minhas mãos e que participo de seus maiores prazeres. Produzo algo histórico com equipamentos modernos.
Então, por exemplo, para assar o pão, ele é anteriormente fermentado por 24h. Sou transparente com meus clientes e agrego valor. E então quando você faz isso, o preço do balcão é insignificante.
Começamos com planejamento e isso é indispensável até hoje. Sempre digo, para quem quer começar: não faça grandes dívidas. Eu comecei a padaria em 2017, com R$ 150.000 mil reais e zero de dívidas.
E, outra coisa: para mexer com comida é preciso, antes de tudo, estar bem com você.
Quando eu faço pão, não fico pensando que vou vender. O pão é desafiador e cada fornada é única. Vibro a cada processo. Pão para mim é vida, um equilíbrio entre física, química e biologia, numa mesa para encher a barriga. Sou apaixonado pelo que faço e desafiado a cada dia. Quando vejo que a fornada tem volume e a cor que eu queria, é uma vitória a cada fornada. É o meu prêmio também, por levantar 3h da manhã, sozinho, e ir para padaria. O pão brilha para mim, é mágico. Hoje fazemos entre oito e 12 fornadas e 90 por cento dos pães da padaria ainda são feitos por mim, porque desenvolver ou replicar uma receita é um processo extremamente detalhista, ainda mais porque o processo é longo e os pequenos passos precisam ser obedecidos.
Mesmo assim quero ensinar cada vez mais a quem está comigo, pois sempre fui um cara de ensinar e quero desgrudar do processo. Por isso mesmo iniciei os cursos. Me vejo saindo de cena para fazer coisas do dia a dia, sempre pensando também na expansão. Já são 30 receitas desenvolvidas até o momento, tendo como carros-chefes da padaria os pães Italiano e Ciabatta. Diariamente temos sete variedades de pães em nossa padaria.
A padaria artesanal me trouxe várias alegrias. Minha qualidade de vida melhorou bastante, sou mais feliz que antes. Me trouxe também os melhores amigos que tenho hoje, amigos de confidência. Me deu a possibilidade de conhecer o maior moinho da Itália e, muitas outras. Só não peguei todas as oportunidades que surgiram porque não sou tão
comercial.
Percebi que a padaria artesanal era o que eu queria ainda em casa, fazendo meus testes. Foi nesse período que, em sonho, a minha avó materna, falecida quando eu tinha 13 anos, apareceu para mim. Ela me dizia que sim, o pão daria certo. Era a resposta que eu precisava, dada a mim pela minha avó, que na minha infância e adolescência cozinhava para toda família, fazia bolinhos de chuva, rosquinha de pinga, entre outras receitas. Enquanto o meu pai, do lado paterno da família, descendente de italianos, fazia pão em casa, na minha infância e também juventude. Tenho lembranças de meu pai cilindrando pão e usando o que chamavam “Fermento de Cristo”, um fermento à base de batata inglesa.
Então, saber, hoje, que o pão que eu produzo é capaz de despertar uma história afetiva de alguém, capaz de fazê-la mudar de rota, de colocar um despertador para acordar e cruzar a cidade atrás de meu pão, me faz muito feliz e realizado.
Porque penso em todo o processo, de como foi chegar até aqui. Eu estudei, busquei conhecimento, me especializei e a persistência e determinação sempre foram minhas companheiras. Ao olhar para minhas mãos penso: quanta gente já alimentei. Meu sentimento por cada pão, por cada fornada, é único. O pão para mim é um filho mesmo.
Meus clientes são resultado do carinho que tenho com o pão e todo o seu processo. Embora o instagram da Richard Bakery tenha mais de 10 mil seguidores — inclusive com seguidores do ramo do exterior do país —, meus clientes não são do instagram, são como eu. Um cara simples, que acorda cedo e atende os clientes. O Richard é um trabalhador.
Quando me perguntam o que as minhas mãos e os meus pães têm a dizer para os apreciadores de minha massa artesanal e futuros clientes, eu digo que meu pão é honesto, trabalhado com extremo carinho e dedicação.
Então se tem uma mensagem que eu gostaria de deixar para meus clientes, seguidores é de que nunca desista do que você tenha vontade. Sempre é tempo de mudança. A questão é o quanto você é feliz.
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